Era dia de Páscoa. Como todos os anos, os adultos da família tinham estado a organizar uma caça aos ovos de chocolate. Como todos os anos, esta caça aos ovos acontecia no jardim da casa da tia Emília.
A Tia Emília era uma senhora
a quem já ninguém sabia a idade, e que vivia numa espécie de palacete no meio
da serra.
Era um palacete que intrigava
os mais novos. Parecia estático no tempo, mas havia qualquer coisa de muito
estranho…. Embora parecesse tudo igual, havia sempre qualquer coisa de
diferente, mas que eles não conseguiam dizer bem o que era. Como que se por magia,
todos os anos, quando lá iam, as coisas, embora fossem todas as mesmas, tivessem
mudado de lugar, e tivessem de redescobrir e reaprender aquele lugar.
Tal como todos os anos, a Tia
Emília anunciou que havia um ovo especial, diferente de todos os outros e que
estava muito bem escondido. Nos últimos anos ninguém o tinha encontrado…
Tinha sido dado início à tão
ansiada caça aos ovos de chocolate!
Que conteria aquele ovo de
que, todos os anos, falava a Tia Emília? Teria de ser, de facto diferente…. Tinha
de valer a pena encontra-lo! Onde o teria ela escondido?
A miudagem começou
freneticamente a percorrer todos os canteiros do jardim, subiram a cada uma das
árvores. Volta e meia ouvia-se um deles gritar bem alto: “encontrei! Encontrei mais
um!”
A Ana também encontrou alguns
que foi, ora comendo, ora guardando na sua pequena cesta. Tal como os outros,
também ela anunciava ter encontrado mais um… mas nunca o fazia da forma
entusiástica dos seus irmãos ou dos primos.
No seu íntimo, Ana achava que
tal celebração só teria lugar quando encontrasse “O Ovo”! Mas onde estaria
aquele ovo? Como seria? O que conteria? Como é que o conseguiria distinguir dos
outros? Afinal eram todos ovos de chocolate… sem nada que os distinguisse assim
tanto entre si…
Gostaria tanto de descobri-lo…
mas de certeza seria um dos outros a fazê-lo… Eles eram tão mais destemidos,
originais, decididos do que ela…
Perdida no labirinto dos seus
pensamentos, e já sem grandes preocupações em encontrar ovos de chocolate, a
Ana começou a vaguear pelos jardins do palacete da Tia Emília.
Eram jardins muito bem
cuidados. E este foi um pensamento que assaltou a pequena Ana. De repente, em
vez de andar à procura de ovos de chocolate, a Ana começou a apreciar cada uma
das diferentes flores que ia encontrando. Existiam tantas flores diferentes das
que lá estavam no ano anterior…
Quase sem dar por isso,
entrou no labirinto de arbustos localizado bem no centro do jardim. O labirinto
foi-se adensando e os caminhos foram-se tornando mais estreitos. De repente foi
assolada pelo medo. Estava sozinha e as últimas vezes que lá tinha estado tinha
estado sempre acompanhada! Como ia conseguir sair dali?
Ana recorreu à sua memória e
percorreu todos os caminhos de que se recordava, sem nunca encontrar a saída!
Lembram-se do início da
história? Estes jardins tinham um quê de mágico! As coisas, sendo sempre as
mesmas, mudavam de aparência todos os anos sem que ninguém conseguisse dizer
exatamente o quê ou de que forma…
Assustada, Ana pensou em
gritar para pedir ajuda, mas pensou no que diriam e fariam os outros… De
certeza que iam gozá-la por se ter perdido num jardim que conhece e frequenta
há anos! Decidiu respirar fundo, muito fundo até encontrar a tranquilidade que
lhe permitisse pensar em como sair dali. Nunca iria passar a vergonha de se ter
perdido no Jardim da Tia Emília!
Agora estava mais calma. Começou
a percorrer o labirinto. Agora decidira ir pelos caminhos que nunca tinha
experimentado. E descobriu tantas coisas novas!
Aqueles eram, de facto
jardins bem cuidados. Cada um dos percursos era afinal tão diferente… Nunca
tinha reparado que cada um deles estava construído com arbustos subtilmente
distintos entre si!
E eis que, depois de se ter
permitido deslumbrar a cada nova descoberta, a cada novo percurso Ana estava
bem no centro do labirinto e do Jardim da Tia Emília! E foi aqui que foi verdadeiramente
surpreendida e gritou: “Encontrei O Ovo da tia Emília!”
Era um ovo gigante esculpido
a partir de um arbusto muito particular… O Jardineiro da Tia Emília tinha de
ser muito engenhoso… Aquele arbusto tinha sido, de certeza, enxertado! Só não sabia
quantas vezes, tamanho era o número de flores de cores e formas distintas.