25 setembro 2006

Livros gratuitos Online

Imagine um lugar onde pudesse ler gratuitamente todas as obras do Machado de Assis, obras como a "A Divina Comédia", ou ter acesso a historinhas infantis.

Um lugar que lhe mostrasse as grandes pinturas de Leonardo daVinci, ou onde pudesse ouvir gratuitamente uma música em MP3 de alta qualidade.

Pois o Ministério da Educação do Brasil disponibiliza tudo isso. Basta aceder ao site: www.dominiopublico.gov.br

Só de Literatura em língua portuguesa estão disponíveis 732 obras e estão a pensar encerrar o projecto por desuso, já que o nível de acesso é muito pequeno!

Aceda e divulgue para que esta excelente iniciativa não pare e continue a crescer.

Confidência (Mia Couto)


Diz o meu nome
pronuncia-o
como se as sílabas te queimassem os lábios
sopra-o com a suavidade
de uma confidência
para que o escuro apeteça
para que se desatem os teus cabelos
para que aconteça

Porque eu cresço para ti
sou eu dentro de ti
que bebe a última gota
e te conduzo a um lugar
sem tempo nem contorno

Porque apenas para os teus olhos
sou gesto e cor
e dentro de ti
me recolho ferido
exausto dos combates
em que a mim próprio me venci

Porque a minha mão infatigável
procura o interior e o avesso
da aparência
porque o tempo em que vivo
morre de ser ontem
e é urgente inventar
outra maneira de navegar
outro rumo outro pulsar
para dar esperança aos portos
que aguardam pensativos

No húmido centro da noite
diz o meu nome
como se eu te fosse estranho
como se fosse intruso
para que eu mesmo me desconheça
e me sobressalte
quando suavemente
pronunciares o meu nome

24 setembro 2006

Poema da Despedida (Mia Couto)


Não saberei nunca
dizer adeus
Afinal,
só os mortos sabem morrer
Resta ainda tudo,
só nós não podemos ser
Talvez o amor,
neste tempo,
seja ainda cedo
Não é este sossego
que eu queria,
este exílio de tudo,
esta solidão de todos
Agora
não resta de mim
o que seja meu
e quando tento
o magro invento de um sonho
todo o inferno me vem à boca
Nenhuma palavra
alcança o mundo, eu sei
Ainda assim,
escrevo

Estás Bem?!?!

A pergunta surge, não sei muito bem vinda de onde... Ou melhor, saber até sei... Percebê-la... até percebo, embora seja para mim tarefa um pouco dificil compreendê-la.

Surge do facto de escrever algo a alguém que só daqui por uns anos terá a capacidade de compreender o que lhe escrevi: A Marta (hoje com 7 meses e 1 dia)!

Mas porque será que tal é percepcionado como um facto assim tão estranho? Porquê não contar à Marta o que hoje somos, o que sentimos, e o que ela nos faz sentir?!?!

Faz hoje exactamente 7 meses que a vi pela primeira vez... E desse primeiro encontro retive todos os pormenores.

Detalhes de que nunca se irá recordar a não ser pela memória dos outros. É este o motivo pelo qual escrevo à Marta.

Enquanto não pode fazê-lo ela própria, porque não escrevermos nós o "seu primeiro diário"?

Uma forma engraçada de nos relembrarmos também dos momentos únicos que dizem as mamãs: "nunca me irei esquecer"; e que eventualmente ficarão, por sorte, registados nos famosos "Livros do Bebé".

A minha primeira conversa com a Marta foi intensa. Fui "tia de verdade" pela primeira vez (tal como diria a Carlota - a minha sobrinha emprestada de 5 anos); mas foi também muito divertida.

Falámos ...

  • de democracia: "É melhor a menina aprender desde já que lá em casa quem manda são as mulheres". É essencial ensiná-los bem desde que chegam a este mundo!
  • de beleza. Ela era linda! Com ar de mexicanita. Ou como continua a dizer a Carlota num tom muito ternurento: "Ela é linda! Tem cara de ratita!"
  • de estética... Sim porque apesar de linda, quando cá chegou, a Marta tinha umas unhas já crescidotas: "Não Marta, a menina ainda não tem idade para unhas de gel! Quando for maior, então sim, a tia leva-a à Dulce."
  • ainda sobre beleza... sobre a beleza interior. Sobre a beleza do que nos conseguiu a todos fazer sentir. Da frescura que trouxe a todas as nossas vidas. Dos sentimentos que julgamos sempre já ter vivido, mas que nos surgem sempre como uma novidade avassaladora.

De lá para cá, muitas têm sido as conversas que temos tido. Umas mais "profundas" do que outras, mas todas elas únicas...

Mais que tudo, o que vamos, entrelinhas, ensinado à Marta, esperando que de facto profundamente se enraíze... é a arte do dar e receber.

Num contexto completamente distinto, não tão cor-de-rosa como o da Marta, dizia uma criança ter encontrado "no dar aos outros" a sua fonte de alegria e de felicidade. Ao que alguém lhe respondia que "Há muita gente que nunca descobre essa verdade."

Espero que a Marta a descubra um dia!

23 setembro 2006

A Adivinha (Mia Couto)

Tudo é um jogo, brincriável. Há o bomem, isso é facto. Custa é haver o humano. A vida descostura, o homem passa a linha, a corrigir os panos do tempo. Mimirosa, a menina, nada sabia desses acertos. Acreditava ser tudo simples como o molhado e água, poeira e chão. E assim, tudo em tamanho não aparado: os senhores em infância, as coisas sem consequência.

Seus pais se preocupavam. Passava a idade e Mimirosa demorava a aprender o regime da realidade. Que há deveres, e as contas do ter e do haver. E o ser é apenas o que resta. Noves fora, novos de fora.

Quem estragava esse madurecimento da miúda era sua avó, Ermelinda. A senhora se convertera em parceira de infância, ancorada em irresponsabilidade. Em meia palavra: era companhia de se evitar. Os pais de Mimirosa assim julgavam. A menina devia era evitar os risos, disciplinar arrebatamentos. A escola, em primeiro lugar. A avó, sabia-se, desprezava a escola. Que se aprende mais é fora dela, no calor da família, em redondezas de carinho. Mimirosa estava, por isso, proibida de frequentar a companhia de Ermelinda. Não queriam nem que fosse vista junto, perto do caminho da avó. A menina era conduzida, de mão acompanhada, até às imediações escolares, onde já não poderia desviar a direcção. Imaginava-se. Porque ela, mal se soltava das vistas, se internava no atalhozito que dava na casa da avó. Ali gazetava dos deveres, entretida nos nenhuns afazeres da velha senhora. Conforme os olhos distraídos da velha ela ajudava, rectificando um aqui no além ela. Até que, inevitável, chegava o jogo da adivinhação.

- Qual é um rio que não tem senão uma margem?

- Isso é coisa que não pode, avó! E do outro lado fica o quê?

- Pense, se ensine. Já sabe que o prémio que há-de haver...

Prémio que haveria era só o serem as duas, ali, no escondido. A velha deixava o mistério durar, pairada, parada. A pergunta labirintava na cabeça de Mimirosa. Podia um rio assim? Ou já se viu a estrada correr sem o amparo de duas ambas bermas?

- Mas há o prémio de verdade?

- Se você‚ adivinhar esse mistério, o mundo vai ficar tão admirado que até o tempo há-de parar.

- Jure, avozinha?, berlindavam-se os olhos dela.

E voltavam às lides, sem obrigação de nada. O jardim da casa parecia obra de inventar. Uma só arbustozinho nele cabia.

- Vês a sombra? Essa sombra é pequena. Mas existe uma sombra que é da terra toda inteira.

Voltada a casa, a menina era inquirida pelos pais, perguntas sem mistério, coisas de calcular o futuro: quando fores grande já escolheste o que vais ser? Simplesmente, ela não sabia querer ser grande. E, assim, sua ausência na resposta.

- Ela vai ser doutora hospitalar, vaticinava a mãe.

- Ou dessas que faz as contas e faz crescer dinheiro, preferia o pai.

- Tudo serás filha, mas não queremos que sejas como nós.

A menina se admirava: aqueles não gostavam de si mesmos? Por que razão eles queriam que ela lhes fosse diferente? Só a avó gostava de ser como era, cuidadosamente desarrumadinha. Como deviam ser infelizes, aqueles dois, seus pais.

Até que, uma tarde, veio o alvoroço. A velha Ermelinda se sentira mal, o peito dela se amarrotara. Mimirosa, nesses dias, deixou a escola. Mas não a deixaram entrar na velha casinha. A senhora não reconhecia ninguém, ela se convertera em fundo escuro. Nenhuma luz a trazia à superfície de si mesma. E, assim, somaram-se os dias. Mimirosa, obrigada e vigiada, voltou escola. A sombra do morcego se desenha no tecto? Pois o pensamento da neta n o saía do mesmo assunto: saudade de sua avó.

Um dia, enquanto seu olhar fingia percorrer o caderninho, a menina suspulou da carteira e se flechou porta afora. Escapou da escola e correu pelos campos. Ninguém a viu penetrar na penumbra da casa, ninguém suspeitava que se anichara, ofegante, na cabeceira da moribunda avó.

- Avó, sei a adivinha!

No rosto da senhora nenhum sinal, nem uma ruga se alterou. Parecia que Ermelinda já cruzara aquele risco feito na água, fronteira entre a vida e a morte.

- Lembra a adivinha, vó? Aquela do rio de um lado só?

E os olhos da menina se atabalhoaram de água, sentida sozinha no grande mundo. A mão dela ainda arriscou tocar no braço da avó. Mas teve medo. E se cborou! O caderninho órfão, em suas mãos, sofria a catarata das lágrimas. Até que os braços do pai a puxaram. Primeiro ela cedeu. Mas depois esgueirou-se, por um instante, e depositou o caderninho escolar no leito da água. Estava aberto numa figurinha do oceano, mais suas criaturas profundas. E a voz da menina tombada com um derradeiro lenço:

- É o mar, avó. Esse cujo rio; é o mar.

Já se retiravam daquele luto, todos mais Mimirosa quando os dedos da avó tactearam o ar e, cegos, chegaram até no caderno. Depois, acariciaram o azul da imagem. E caderno começou a pingar, como se o papel não mais contivesse aquela água.

22 setembro 2006

Litte Eyes See a Lot


When you thought I wasn't looking...

... I saw you hang my first painting on the refrigerator, and I immediately wanted to paint another one.

... I saw you feed a stray cat, and I learned that it was good to be kind to animals.

... I saw you make my favorite cake for me and I learned that the little things can be the special things in life.

... I heard you say a prayer, and I knew there is a God I could always talk to and I learned to trust in God.
... I saw you make a meal and take it to a friend who was sick, and I learned that we all have to help take care of each other.

... I saw you give of your time and money to help people who had nothing and I learned that those who have something should give to those who don't.

... I saw you take care of our house and everyone in it and I learned we have to take care of what we are given.

... I saw how you handled your responsibilities, even when you didn't feel good and I learned that I would have to be responsible when I grow up.

... I saw tears come from your eyes and I learned that sometimes things hurt, but it's all right to cry.

... I saw that you cared and I wanted to be everything that I could be.

I learned most of life's lessons that I need to know to be a good and productive person when I grow up.

I looked at you and wanted to say, "Thanks for all the things I saw when you thought I wasn't looking."

(Written by a former child)

21 setembro 2006

Kit SOS: Speed Before Dating


Ouvi por estes dias dizer,
Que hoje alguém de parabéns está...
E que muitas unhas se iam roer,
Na famosa ânsia do: "Ces cadeaux sont pour moi!?!"

Vá-se lá saber de quem se trata!
Falaram-me de uma menina namoradeira.
Muito simpática, linda e cordata....
Mas com a fama de ser um bocadinho interesseira
Quando de prendas receber se trata.

Talvez não seja grande o mal, cheguei eu à conclusão...
Afinal conheço a miúda:
Gente pequena que quer ser graúda,
Mas de grande coração.

Para evitar que fosse o mesmo sofrer demasiado,
E a menina tornar-se numa lenda,
Houve que pensar numa solução.
E em dia de aniversário: que prenda?
Uma bola? Um bolo? Porque não?

Não... Isso era mais a "onda" irmã!
Mas depois de muito pensar,
Decidi-me por um talismã!

Parabéns Maria!