14 fevereiro 2007

São Valentim

Diz-se que o imperador Cláudio pretendia reunir um grande exército para expandir o império romano.

Para isso, queria que os homens se alistassem como voluntários, mas a verdade é que eles estavam fartos de guerras e tinham de pensar nas famílias que deixavam para trás...

Se eles morressem em combate, quem é que as sustentaria?

Cláudio ficou furioso e considerou isto uma traição. Então teve uma ideia: se os homens não fossem casados, nada os impediria de ir para a guerra. Assim, decidiu que não seriam consentidos mais casamentos.

Os jovens acharam que essa era uma lei injusta e cruel. Por seu turno, o sacerdote Valentim, que discordava completamente da lei de Cláudio, decidiu realizar casamentos às escondidas.

A cerimónia era um acto perigoso, pois enquanto os noivos se casavam numa sala mal iluminada, tinham que ficar à escuta para tentar perceber se haveria soldados por perto.

Uma noite, durante um desses casamentos secretos, ouviram-se passos. O par que no momento estava a casar conseguiu escapar, mas o sacerdote Valentim foi capturado. Foi para a prisão à espera que chegasse o dia da sua execução.

Durante o seu cativeiro, jovens passavam pelas janelas da sua prisão e atiravam flores e mensagens onde diziam acreditar também no poder do amor.

Entre os jovens que o admiravam, encontrava-se a filha do seu carcereiro. O pai dela consentiu que ela o visitasse na sua cela e aí ficavam horas e horas a conversar.

No dia da sua execução, Valentim deixou uma mensagem à sua amiga (por quem dizem que se apaixonou), agradecendo a sua amizade e lealdade.

Ao que parece, essa mensagem foi o início do costume de trocar mensagens de amor no dia de S. Valentim, celebrado no dia da sua morte, a 14 de Fevereiro do ano de 269.

Escultura com talheres










(Fonte desconhecida)

08 fevereiro 2007

Coisas da Carlota... Um mundo difícil de explicar...


Verdade seja dita, da Carlota e das suas experiências
Não faz a igreja parte constante.
Por isso algumas das suas insistências,
Perante um mundo para si deslumbrante.

Entre as suas vivências mais recentes,
Consta um presépio vivo em dia de Janeiras cantar.
Depois de ver Cristo vindo ao mundo de todos recebendo presentes,
Com teatros e teatrinhos passou a Carlota a sonhar.

Numa ida à igreja em dia sem festejo especial,
Menina de boa memória,
Perante Padre de vestes vermelhas, distintas do habitual,
Eis que do presépio vivo lhe surge o retrato...
Dizendo logo à mamã: "Espera aí, espera aí, que eu quero ver o teatro! "

Em dia marcado para D. Branca recordar,
A Carlota foi à missa, e lá bem na frente quis ficar,
Não lhe fosse qualquer pormenor escapar!

No seu próprio papel, muito compenetrada,
Até porque se trata de menina bem comportada,
Muito beata, ia sempre bichanando fingindo rezar,
Não fosse por herege ela passar!

Cumprindo a preceito os tramites da celebração,
Lá se foi levantando, sentando, ajoelhando...
Assentindo a tudo com enorme devoção.

Intrigada com uma Sra. que de joelhos permanecia,
E achando que do padre aquilo não seria de grande agrado,
Sempre com boas intenções insistentemente lhe dizia:
"Já te podes levantar, já está tudo levantado!"

Como quase tudo desconhece,
Muitas mais coisas "estranhas" cativaram o seu olhar...
Lá sabia ela que na missa houvesse coisa que se desse!?!
"Vamos lá ver mãe o que estão a dar!"

"O corpo de Cristo" - Eis que diz o padre.
Que coisa estranha...
É questão que na sua cabecita se lhe entranha...
E pergunta: "Oh mãe, de que parte?"

"O corpo de Cristo é um símbolo Carlota" - Explicou então a mãe
"Assim as pessoas ficam cheias de Deus"
"Cheias como?" - mais um dos enigmas seus.
"Ficam boazinhas e começam a fazer bem!"

As perguntas continuam... "Porque é que não vamos mãe?"
"A mãe não pode e tu também!
Tu a 1ª comunhão não fizeste ainda,
E a mãe de se confessar tinha "

Mais uma coisa nova... "O que é isso de confessar?"
"É ao padre o que de mal fiz contar "
"Tinhas muito para contar também...
Ias lá ficar muito tempo não era mãe?"

Não fosse a Carlota menina muito atenta,
Eis que ouve o nome da avó Branca.
"Mãe eu quero ver a avó", diz ela de forma ternurenta.

"Não podemos filha. Não conseguimos ver a avó."
"Porquê? Onde é que ela está?"
"Está no céu e agora é um anjo."
"E não a podemos ver? - tamanho é o seu desejo...
Os anjos não se vêem filha, mas ela anda por cá!"

07 fevereiro 2007

Olhai, senhores, esta Lisboa d'outras eras...

Das festas,
das seculares procissões,
Dos populares pregões matinais
que já não voltam mais!

O Aguadeiro


O Alfarrabista

O Trapeiro

O Ardina
O Barbeiro

A Criada de Servir
O Engraxador
O fotógrafo à-lá-minute

O Moço de Fretes
O Limpa-Chaminés
A Modista
O Padeiro
O Pescador
O Propagandista
O Sapateiro
A Vendedeira de Galinhas
O Vendedor de Castanhas
O Vendedor de Gelados O Vendedor de Rendas
A Vendedeira de Figos
A Vendedeira de Petiscos
A Lavadeira
O Polícia A Vendedeira de Refrescos
O Taberneiro
A Telefonista
A Varina
A Ama O Calceteiro
O Calista O Carteiro
A Costureira
O Estivador
O Coveiro

02 fevereiro 2007

Elogio ao Amor Puro (Miguel Esteves Cardoso)

Quero fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão. Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática.

Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado.

Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido.

Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria.

Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em "diálogo".

O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios.

Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões. O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem. A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática. O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam "praticamente" apaixonadas.

Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há, estou farto de conversas,farto de compreensões, farto de conveniências de serviço. Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje.

Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "tá tudo bem, tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas. Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo?

O amor é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso "dá lá um jeitinho sentimental". Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos. Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade. Amor é amor.

É essa beleza.

É esse perigo.

O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode.

Tanto faz. É uma questão de azar. O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto.

O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor. A"vidinha" é uma convivência assassina. O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não se percebe. Não dá para perceber. O amor é um estado de quem se sente. O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende. O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser. O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe.

Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém.

Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem.

Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz. Não se pode ceder.

Não se pode resistir.

A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a vida inteira, o amor não. Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também.

Em consciência.... (Vasco Pulido Valente)

O motivo mais comum para votar "sim" ou "não" é da relutância (ou o medo) de não seguir o grupo a que imaginariamente se pertence: a Igreja, a direita, a esquerda, a profissão ou a família. A "consciência" de que todos falam, e muita gente exibe, não passa disso. Ou, pelo menos, muitas vezes, não passa disso.
in O Público